sábado, 14 de março de 2009

Lucifer

Durante a fase de crescimento, nós podemos usar tanto roupas um pouco maiores, quanto roupas um pouco menores. Com o tempo, porém, as menores ficam desconfortáveis e chegam a rasgar se as vestirmos, então não tem mais volta. Precisamos usar as roupas que nos servem.
Com o espírito é a mesmíssima cousa. Com a evolução, ele cresce. Até certo ponto, enquanto está preso à reencarnação, ele pode estacionar e se rebelar inutilmente. Mas a partir do momento em que a fase reencarnatória se torna desnecessária, não há mais vestígio de sombra que dê margem para pensamentos perniciosos, então o espírito nunca mais volta a cair.

Muitos dizem que evocaram espíritos malignos em rituais negros, que receberam entre eles já se manifestaram os que se diziam Lúcifer.

Bem, eu posso aprender francês, estudar diplomacia e mandar e-mails como se fosse Albert de Mônaco. Mas me dizer Albert, não me torna Albert.

Um vidente competente não se deixaria enganar, pois o pensamento fora do corpo é indisfarçável, a mentira estaria escancarada à sua frente.

Lúcifer e Satanás não são a mesma pessoa. Este último, aliás, nem está mais na Terra, está aguardando na face escura da lua o transporte para sua próxima degredação. Coitado dele.

Lúcifer é um anjo, como tal deixou seu último corpo de carne há, no mínimo, muitos milhões de anos. Quem sabe o que isto significa (à quem não sabe é difícil explicar) conclui facilmente que ele não decaiu, pelo simples facto de que ele não tem absolutamente nenhuma necessidade de se afirmar, se enfrentar, nem de cousa alguma. Ele já é um ser realizado.

Leiam de novo: Lúcifer é um anjo. A parte da lenda que lhe atribui uma beleza extraordinária certamente é verdadeira, a outra é falsa. Quem começa a emitir luz não tem espaço para trevas, pois sua própria presença as debela. Emitindo ele sua própria luz, nem a mais densa sombra resistiria aos primeiros instantes de sua iluminação, sabe-se lá quando ela aconteceu.

Ele é um guardião do mundo inferior, daí terem lhe atribuído a identidade do outro. Para a sociedade da época, infinitamente pior do que a actual, quem estivesse em baixo pertenceria ao mundo de baixo, quem estivesse no alto pertenceria ao mundo do alto. Elevação por mérito era uma idéia perigosa, que de modo algum poderia vingar entre o povo humilde e sem amparo. Sabemos que muitos dos que se apropriaram do cristianismo eram ateus até a medula, sendo também políticos, não se importaram em deturpar o que já estava deturpado e deixar a batata quente para a posteridade. Para eles, se o mundo explodisse quando morressem, estaria óptimo, não acreditavam mesmo na vida fora do corpo. Tiraram da bíblia tudo o que lhes fosse incoveniente, permitiram ao longo dos séculos que surgissem dezenas de traduções que eram moldadas à cultura e política de cada região. Tenho notícias de que são cinqüenta e sete, pelo menos. Enfim, isto daria um livro inteiro para discutir.

Os antigos desaconselhavam evocar Lúcifer, não porque seria mau, mas porque é certamente a criatura mais ocupada do orbe terrestre. Ele tem a missão mais espinhosa de todos, que é manter os demônios em seu devido lugar, até que concordem em pagar karmicamente pelos seus delitos e aceitem evoluir. Se a maioria das pessoas encarnadas reluta em fazê-lo, imaginem eles.

Ele não nega ajuda no que for de sua competência, mas o trabalho que ele faz é demasiadamente denso, nem todas as criaturas trevosas resistem às profundezas em que ele realiza seus feitos. Experimente ficar trancado em uma câmara frigorífica cheia de carne podre, com uma roupa apertada, e terá uma vaga idéia do que ele enfrenta. Por que ele faz isso? Por nós. Por amor a Deus e a nós, ele está há centenas de milhões de anos no que é realmente o inferno, algo que somente um verdadeiro anjo pode suportar. Como um anjo de verdade, ele não dá a mínima para as difamações que lhe dirigem, simplesmente faz o seu trabalho com resignação e a determinação de não deixar ninguém para trás. Quando o último trevoso tiver se arrependido e subido à superfície, devidamente encarnado, então sim o trabalho dele estará terminado. Mas a julgar pelo que nós, caminhantes da magia, vemos e sentimos todos os dias, nosso pobre irmão vai amargar aquele lugarzinho por muito tempo.

Depende de nós abreviar essa missão. Todos sabemos o que devemos e o que não devemos fazer. Se querem agradecer pelo trabalho que ele faz, pratiquem o que devem fazer sem dar conversa às tentações de vingança, ressentimento e egoísmo. Esqueça o que não te serve e busque cousas novas. Só isso já basta.